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  • Episódio 3: Feras Humanas

EPISÓDIO 3 . 15/06/2024

FERAS HUMANAS

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NOTAS DO EPISÓDIO

Os relatos narrados no episódio sobre a vida do Pereira Lima foram retirados do Jornal Última Hora, que publicou as páginas dos diários dele em 1964. Os textos contam detalhes sobre várias fases de sua vida, inclusive a época em que esteve na prisão da Ilha Anchieta.

Página 1 – Introdução (13/jan/64)

P.2 – O Crime Dele (14/jan/64): Num bar, em 1940, Pereira Lima encontra o primeiro sargento Teodomiro de Freitas Santos. Pereira fala boa noite para todos. Teodomiro exige continência, Pereira o faz. Porém Teodomiro manda ele fazer evoluções de ordem-unida. Pereira se nega por achar humilhante. Por isso leva um tapa. Em seguida, saca uma pistola e dá um tiro na cabeça de Teodomiro e um no pescoço de Juliano Machado Mota. Condenação: 31 anos.

P.3 – Sua Primeira Fuga (15/jan/64)Pereira conta detalhes sobre como conseguiu fugir da detenção, fugiu para Salvador. Quando sente saudades dos pais, volta para São Paulo, onde descobre que os pais foram intimidados e humilhados pelos militares. Em uma manhã já acordou rendido por militares, jornalistas e seiscentos homens fardados botando cerco no prédio. No jornal disseram que ele e o irmão dele trocaram tiros com a polícia.

P.4 – Chegada à Ilha Anchieta (16/jan/64)No ano de 1948, 24 de maio, saiu da Casa de Detenção de São Paulo e foi enviado para o Instituto Penal da Ilha Anchieta. Antes recebeu um batismo no meio da estrada: espancamento. Foi salvo pelo motorista. Sadi, o diretor, recebe eles, dizendo que “A sociedade os mandou aqui afim de morrerem aos poucos, não se esqueçam disso.” A situação dos alojamentos é lastimável, sua primeira noite é cheia de percevejos, ratazanas, borrachudos e morcegos.

P.5 – Torturas (17/jan/64): Maus tratos dentro da detenção. Eram tratados como escravos. Atilio e seu sadismo, jogava caneca de água fervente nos presos que lhe pediam comida. Portugal de Souza Pacheco, chefe de disciplina, gravava o Mapa do Brasil nas costas de prisioneiros com chibata.

P.6 – Mais Torturas (18/jan/65): Detalhes das torturas que aconteciam na Praia Grande (Praia das Palmas), com umbigo de boi (chibata feita com pênis de boi esticado e ressecado), amarravam os presos em argolas em uma árvore longe da vila. Torturas relatadas no episódio.

P.7 – Orgias no hospital (21/jan/64): Pereira ralata que os policiais realizavam orgias com prostitutas feitas no hospital. Eles tiravam os presos enfermos de lá e os jogavam nas celas. Pereira escreveu uma carta para a Corregedoria, mas eles avisaram o diretor Sadi e não fizeram nada. A Dona Nana, quem ajudou Pereira a postar nos correios a carta, foi mandada embora da ilha, junto com seu marido, o telégrafo.

P.8 – Início da rebelião (22/jan/64):  Mais maus tratos: 20 de junho de 1952, Pereira estava com amigdalite, mas Sadi não deixou ele ser examinado no continente. Tinha pessoas com escorbuto, Pereira reclamou, dizendo que aquilo era desumano, Sr. Mario deu na cara dele com uma tabuleta de chamada. Pereira ficou quieto.

P.9 – Mais detalhes sobre a Rebelião (23/jan/64)

P.10 – Rebelião: Sadi pede piedade (24/jan/64): Presos renderam o diretor Sadi na casa dele. Sadi suplicou por clemencia. Os presos queriam matá-lo. Pereira Lima se coloca na frente com uma Winchester em mãos, ordenando que não façam nada com Sadi.

P.11 – Rebelião: Fugindo da Ilha (28/jan/64)Presos pegam as lanchas, embarcando no barco “Carneiro da Fonte” e chegando no continente. Entram na mata.

P.12 – Rebelião: Caminhada pela mata (29/jan/64): Fugitivos precisam de recursos, um deles rouba um caiçara, mas Pereira Lima faz ele devolver. 

P.13 – Rebelião: Recaptura (30/jan/64): Muitos dos fugitivos foram recapturados e muitos assassinados. “Estarrecido presenciei por diversas vezes, com binóculos que trazia comigo aquela chacina.”. Pereira sobrevive no mato, passando fome, comendo raposa. 

P.14 – Cadeia de Cunha (31/jan/64): Foram pegos e encaminhados para a Cadeia de Cunha. Lá os policiais se revoltaram com o exercito, exigindo que Pereira, Mocoroa e Jerico fossem executados.

P.15 – Torturas nas recapturas (03/fev/64): “Todo o inquérito havia sido feito sob coação. A Polícia (…) espancava dia e noite os presos”

P.16 – Condenação Final

P. Extra: Nova penitenciária (no continente)

Entrevista da Folha com João Pereira Lima

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A equipe de voluntários está cada vez mais próxima do rastro da raia-chita! A cada novo dia, os visitantes e até funcionários do parque traziam relatos de avistamentos e encontros com a raia-chita. Apesar disso, os voluntários ainda tinham dúvidas se teriam eles mesmos o tão esperado encontro, pois agora já tinha se passado mais da metade da viagem. Nesse episódio, Gabi e Lucas nos levam para fazer uma trilha e descobrir mais um segredo que aquela ilha revela.
[Daqui pra frente, esse texto contém spoilers!]
Junto aos receios, veio a vontade de aproveitar ao máximo todas as maravilhas que o voluntariado no parque pode proporcionar. Durante uma das trilhas, para assistir o nascer do sol do lado da ilha que está voltado para o oceano aberto, eles se deparam com um novo mistério: ruínas de um quartel general. A Gabi e o Lucas já tinham estado na Ilha Anchieta antes, e sabiam que lá, no século passado, tinha funcionado um presídio, que foi completamente desativado depois de uma das maiores rebeliões na história do Brasil. Essa história fazia parte do dia-a-dia da Ilha, já que os pavilhões e celas ficavam ao lado da janela do alojamento dos voluntários! A história que contam no parque é a história de um dos presos da época, o Portuga, que era um grande gênio, bastante experiente em fugas de prisões. De fato, ele já tinha fugido, cavando um túnel, da Penitenciária do Estado, meses antes de ser levado para o presídio da Ilha. Chegando lá, ele elaborou um plano infalível, e conseguiu fugir com mais de cem presos para o continente. 

Mas essa história não é a única versão sobre a rebelião do presídio. Durante a produção do podcast, a Gabi e o Lucas conheceram dois historiadores, o Dirceu e a Érica, que estudaram a fundo essa história, e mostraram para a dupla de biólogos… que eles não sabiam de nada!
A história do Portuga é uma das versões sobre o que aconteceu rebelião, que é baseada em um inquérito militar feito no ano desta revolta. Mas o Dirceu estudou um outro documento sobre essa mesma rebelião, um inquérito civil. Esse inquérito demorou anos para ser concluído e entrevistou muitas pessoas envolvidas nessa rebelião. Segundo essa versão, o líder da rebelião não era o Portuga e sim um preso chamado João Pereira Lima. Ele foi considerado o líder do motim, não apenas pelo inquérito, mas também pelos jornais da época, que envolveram até a família do Pereira Lima para recapturá-lo depois da fuga em massa. 

Cada um dos inquéritos estava querendo vender um peixe diferente, mas os dois mostram interesses do Estado. Por isso, a conversa com a Érica foi importante: ela estudou a vida do João Pereira Lima, e contou para a Gabi e pro Lucas o que ele dizia sobre a rebelião. Ela apresentou para eles os diários do Pereira Lima, em que ele descreve a vida dos presidiários da Ilha Anchieta. E toda essa pesquisa trouxe um aprendizado: a história depende de quem está contando. 

Ruínas do presídio da Ilha Anchieta
Ruínas do presídio da Ilha Anchieta
Janela do nosso quarto com as ruínas do presídio ao fundo
Saco Grande
Saco Grande
Saco Grande
Saco Grande
Imagens do Instituto Correcional da Ilha Anchieta I Arquivo público do estado de São Paulo
Imagens do Instituto Correcional da Ilha Anchieta I Arquivo público do estado de São Paulo
Imagens do Instituto Correcional da Ilha Anchieta I Arquivo público do estado de São Paulo
João Pereira Lima sendo levado de volta a São Paulo depois de ser recapturado.
Jornal A folha de SP
Jornais expostos no centro de visitantes do parque estadual da ilha Anchieta

VOCÊ OUVIU

Gabriela Longo

Bióloga, educadora popular e comunicadora da ciência, a Gabi adora uma aventura, e está em constante movimento. Ela já atuou em diversos projetos de conservação, de tartarugas marinhas, baleias jubarte e até lobos-guará; e de educação popular e social, e hoje é mestranda no Programa Interunidades em Ensino de Ciências, na USP. 

A Gabi é uma das produtoras e narradoras do podcast Sinal de Vida, um projeto que ela tem certeza que mudou a sua. 

Lucas Andrade

O Lucas é biólogo, desenhista e especialista em comunicação pública da ciência (UFMG). Ele nasceu e cresceu no Jardim Iporanga, periferia da zona sul de São Paulo, e sempre buscou conectar seus dois mundos por meio da arte, de narrativas… e da resenha! Ele é um dos produtores do podcast Alô, Ciência?, faz parte do OCorre Coletivo, e já publicou diversos quadrinhos, e um deles, o “Inimigo Invisível”, ganhou o prêmio HQ Mix! O Lucas é um dos produtores e narradores do podcast Sinal de Vida, e ainda assina as artes de cada um dos episódios! 

Dirceu Franco Ferreira

http://lattes.cnpq.br/8709326126834993

 

Dirceu é doutor em história pela Universidade de São Paulo, é membro fundador do Grupo CoPALC – Colonização Penitenciária na América Latina e Caribe, juntamente com pesquisadores da França, Argentina, Peru e Brasil. Sua dissertação de mestrado foi sobre a Rebelião dos presos na Ilha Anchieta, SP, em 1952. No doutorado, analisou as relações entre insurgências e reformas prisionais em São Paulo e no Rio de Janeiro, entre 1940 e 1961.

Érica Vieira dos Santos

vieira.santos@unifesp.br

 

Érica é mestre em História pela Universidade Federal de São Paulo. Autora de “João Pereira Lima: entre laudos e penas, a trajetória de um preso incorrigível (1948-1980)”, Dissertação de Mestrado, UNIFESP, 2023. É professora de História na Rede Pública estadual e atualmente dedica-se à pesquisa sobre as relações entre Medicina Legal e controle social de trabalhadores e delinquentes na cidade de São Paulo nas primeiras décadas do século XX. 

Agradecimentos especiais:

Leandro Cruz

@leandrocruzhistoriador

https://www.youtube.com/@leandrojacruz

 

Leandro Cruz é professor de história, historiador, jornalista, poeta e dramaturgo. Atualmente, possui um canal com videoaulas de História, comentários sobre política nacional e internacional, e podcast com bate-papo com as pessoas mais interessantes do Litoral e de todo o Brasil transmitidos direto dos Estúdios InforMar Ubatuba.

Esse episódio contou com as vozes de:

Jorge Maia

Jorge é poeta, contista, roteirista audiovisual e integra o grupo de teatro e percussão corporal “Tuc Boys” desde 2007. Nascido e criado na zona sul de São Paulo, no bairro do Capão Redondo, em 2018 o escritor publicou, junto a outros poetas brasileiros e africanos, a Antologia Africanos – Versos, Textos e Pretextos, em uma parceria da Editora Ler e Escrever e Editora Alupolo. Jorge também é historiador e professor de História pela UFRJ, palestrante sobre educação e práticas antirracista, mestre em Educação e agora realiza seu doutorado também em Educação pela UFRJ. Nessa área, foi colaborador em publicações acadêmicas, com artigos em revistas científicas e de divulgação, assim como no livro História Oral e educação – Experiência, tempo e narrativa, publicado pela Editora Letra e Voz.

Amanda Guedes

@mandi.guedes

 

É bióloga e especialista em comunicação pública da ciência pela UFMG. Atualmente trabalha com comunicação da ciência em um projeto de conservação da biodiversidade, e faz parte da equipe do Sinal de Vida

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